quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A história do comércio entre Rússia e Brasil


Em 1814, chegaram ao Brasil os dois primeiros navios mercantes da Rússia, de propriedade da Casa de Comércio Brandt-Rodde & K. Nos anos seguintes, o comércio se desenvolveu apenas através de intermediários e alcançou uma cifra entre 3 milhões e 4 milhões de rublos (entre US$ 65 mil e US$ 87 mil) . O volume de exportação da Rússia foi cinco vezes menor do que o de importação, composta principalmente por algodão, café, couro, borracha e baunilha. Na costa brasileira, por sua vez, os russos entregavam trigo, madeira, petróleo, adubos minerais, vodka, álcool, ouro, esmalte e louça.
“O período de 1814 a 1917 foi caracterizado pelo grande interesse e esforço mútuo em se estabelecer o comércio perene. Mesmo assim, os empreendimentos sofreram diversas dificuldades, em primeiro lugar, da grande influência negativa da Inglaterra, fornecedora e compradora de produtos coloniais e das exportações russas, bem como do pequeno tamanho da frota mercante russa e da total dependência de intermediários, impedindo de forma significativa a expansão do comércio Brasil-Rússia”, explica o economista e historiador Aidar Shakírov.
Totalmente diferente foi o período entre 1917 e 1991, caracterizado em um primeiro momento por um grande impulso e depois pelo congelamento total do comércio entre os dois países. Eventos políticos, militares e revolucionários ocorridos tanto na URSS quanto no Brasil tiveram efeitos nótaveis nas relações comerciais. Em 9 de dezembro de 1959 foi assinado entre os dois países o Tratado sobre Comércio e Pagamentos, que colocou as relações bilaterais de URSS e Brasil em um novo patamar histórico.

Primeiramente, logo em 23 de novembro de 1961, as relações diplomáticas foram reestabelecidas. Em dois anos, escritórios de representação comercial foram abertos em Moscou e no Rio de Janeiro. Entre 1959 e 1963, o comércio aumentou 12 vezes, de 5,6 milhões para a 65,6 milhões de rublos (de US$ 122 mil para US$ 1,4 milhão). A participação da URSS no comércio exterior brasileiro em 1963 chegou a 3%.
Mas com a subida dos militares ao poder no Brasil em 1964, as relações comerciais congelaram: um pouco de petróleo russo em troca de algumas sacas de café e mais nada.
Durante a segunda metade da década de 1970 observou-se novamente um aumento no volume dos negócios, partindo de 125,8 milhões de rublos (US$ 2,8 milhões) em 1973 a 445,5 milhões (US$ 9,7 milhões) em 1978. O Brasil manteve regularmente o saldo positivo da balança comercial com a URSS, enquanto que “com as nações desenvolvidas o país constantemente apresentava um déficit comercial”, afirma Shakírov em sua obra “Rússia-Brasil: relações econômicas internacionais”. Naqueles anos, o Brasil adquiria sobretudo produtos de engenharia soviética, tais como turbinas e geradores que ainda hoje funcionam nas usinas hidrelétricas de Capivara e Sobradinho.
Cooperação
Nos anos 80 observa-se a transição das relações econômicas pautadas em acordos comerciais para o status de cooperação econômica. Nessa época, foi dado início aos trabalhos da Comissão Intergovernamental sobre Comércio e Cooperação Econômica e Técnico-Científica. Como resultado, já em 1984, uma equipe técnica composta por especialistas soviéticos prestou assistência à construção de uma usina para a produção de álcool etílico. Além disso, siderúrgicas brasileiras compraram tecnologia russa para alguns processos de fundição.
A última década do século 20 foi marcada por uma queda nas relações econômicas e pela estagnação em muitas áreas de indústria e comércio. A razão reside na reestruturação da vida e das atividades econômicas na Rússia, tanto no plano interno quanto no externo. No que toca à cooperação técnico-militar, apesar da compra pelo Brasil de mísseis antiáereos “Iglá” em 1994, não é possível considerar um sucesso os esforços nesta área.

Recuperação
Sinais de recuperação começam a despontar na primeira década do século 21. As relações comerciais apresentam um crescimento de 42% em 2010, com as trocas alcançando o montante de US$ 6 bilhões. Este progresso se deu após uma acentuada queda de 46% durante o ano de 2009, sob os US$ 8 bilhões anteriores à crise financeira global de 2008.
Em 2012, as trocas comerciais batiam a cifra de US$ 6,7 bilhões. Declarações recentes dos líderes russos afirmam que em breve os valores irão ultrapassar os US$ 10 bilhões. Enquanto isso não ocorre, vale ressaltar que as relações comerciais entre Brasil e China expandiram em 57% no ano passado, alcançando o montante de US$ 56, 3 bilhões.
Apesar de a China também estar localizada geograficamente longe do Brasil, ela é considerada um importante parceiro comercial. Por mais que os empresários russos reclamem da fragilidade do sistema de transporte e de logística, esses não são os problemas principais. A China foi capaz de estabelecer e fortificar uma conexão direta com a comunidade empresarial brasileira, enquanto os russos ainda utilizam serviços intermediários.
Por que não existem voos diretos entre Brasil e Rússia? Perguntas como essas formaram a crítica do presidente da União Russa de Industriais e Empresários, Aleksândr Chókhin, em uma palestra a empreendedores durante a visita de Dilma Rousseff a Moscou no ano passado. Da mesma forma se manifestou o vice-presidente do Sindicato da Indústria de Turismo, Iúri Barzíkin, durante a Exposição Internacional de Viagem e Turismo de Moscou, ocorrida em março do ano passado.
Mesmo com a ausência de voos diretos entre os dois países, o número de turistas russos cresceu: em 2010, 15 mil visitaram o Brasil. E 2012, o dobro.
“Podemos alcançar o patamar de 100 mil turistas sem problemas”, diz o empresário brasileiro Gilberto Ramos, “precisamos apenas organizar voos diretos”, completou.
“Venham trabalhar com o mercado russo, ficaremos felizes com isso. Precisamos não apenas fortalecer o comércio mútuo de alguns produtos específicos, como fertilizantes e carnes, mas encontrar novas formas de cooperação. É necessário investirmos uns nos outros”, afirmou o primeiro-ministro russo, Dmítri Medvedev, durante sua visita ao Brasil.

Para isso não é preciso grandes esforços: concretizar na Rússia a política de exportação e importação de bens, serviços e capitais provenientes da América Latina. Temos de agir agora, enquanto o equilíbrio de interesses poderá servir à solução de problemas do Brasil e da Rússia.

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